"O príncipe perambulou por longo tempo no castelo. Enfim, achou o portãozinho de ferro que levava à torre, subiu a escada e chegou ao quartinho em que dormia A princesa Aurora. A princesa estava tão bela, com os cabelos soltos, espalhados nos travesseiros, o rosto rosado e risonho. O príncipe ficou deslumbrado. Logo que se recobrou se inclinou e deu-lhe um beijo. Imediatamente, Aurora despertou, olhou para o príncipe e sorriu. Todo o reino também despertara naquele instante...
...A vida voltara ao normal. Logo, o rei e a rainha correram à procura da filha e, ao encontrá-la, chorando, agradeceram ao príncipe por tê-la despertado do longo sono de cem anos.
O príncipe, então, pediu a mão da linda princesa em casamento que, por sua vez, já estava apaixonada pelo seu valente salvador. Eles, então, se casaram e viveram felizes para sempre!"
Será mesmo? Porque a princesa iria querer o príncipe? Ou será que não existem mais princesas?
É sempre a princesa que num sonho acorda e encontra seu príncipe, e o príncipe que vos fala, ninguém sabe de sua trajetória.
O conto de fadas dele havia se perdido em algum devaneio de dor e sofrimento, em alguma escolha que o fizera desviar de seu verdadeiro eu.
Antes mesmo de beijar a princesa, havia sido sua boca um objeto de tortura a si mesmo em suas tentativas insanas de encontrar a metade que lhe cabia na história.
O que o fizera ter a esperança é a imagem daqueles que lhes são promíscuos, daqueles que nunca terão o beijo que os farão ter o 'para sempre'.
A esperança nascente ao mirar aqueles que nunca poderão acordar a doce princesa, pois também dormem nas profundezas de seus corações. Daqueles que infligem sofrimento gratuito aos que tanto querem de seu beijo um amanhecer, uma centelha da luz que lhes acordará a alma.
O príncipe é aquele que vos acorda, pois acordado ele sempre esteve, nunca prendeu-se ao próprio ego, nem vendeu sua alma para a luxúria alheia.
O príncipe é o eterno vagante, senhor errante de seus próprios sonhos, de intuitos determinativos e ligados aos princípios mais puros.
Como vagueia, sempre encontra. Porém vagueia limpo e composto de sua natureza singular, único e diferente, coroado como o que dá ao fim do conto um final feliz.
Se é para sempre? Sempre dependerá da princesa.